Apocalipse


Quando estava na Ilha de Patmos (Ap. 1:9), o apóstolo João recebeu revelações de Jesus Cristo, por meio de visões (Ap 1:1), ordenando para escrever as sete igrejas da Ásia menor, as quais foram feitos elogios, críticas, correções, julgamentos e promessas:
No dia do Senhor fui dominado pelo Espírito de Deus e ouvi atrás de mim uma voz forte como o som de uma trombeta, que me disse: – Escreva num livro o que você vai ver e mande esse livro às igrejas que estão nestas sete cidades: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodiceia.” (Apocalipse 1:10-11)



Estrutura das cartas


Em sua estrutura todas as cartas apresentam:
■ Introdução – comentário sobre a igreja;
■ Aprovação/reprovação – elogios e/ou críticas a igreja;
■ Orientação –  instrução para a correção do erro;
■ Promessa – prêmio (bênção) para aquele que permanece fiel até o fim.



As sete igrejas do Apocalipse

Éfeso (Apocalipse 2:1-7), Esmirna (Apocalipse 2:8-11), Pérgamo (Apocalipse 2:12-17), Tiatira (Apocalipse 2:18-29), Sardes (Apocalipse 3:1-6), Filadélfia (Apocalipse 3:7-13), Laodiceia (Apocalipse 3:14-22)

As igrejas Esmirna e Filadélfia foram as únicas que receberam apenas elogios. Éfeso, Pérgamo, Tiatira e Sardes receberam tanto elogios quanto críticas, já Laodiceia não recebeu nenhum elogio, apenas críticas. Vejamos o que cada uma das sete cartas significa:



1. Igreja em Éfeso (Apocalipse 2:1-7) 

Éfeso era uma cidade portuária, tinha o mais importante centro comercial, cultural e religioso da Ásia Menor, era conhecida como “feira das vaidades”. Nela reinava a imoralidade e idolatria, o templo da deusa Diana era uma das sete maravilhas do mundo antigo (Atos 19:23-35). 


A cidade era repleta de superstições pagãs, além de ser um dos centros de culto ao imperador.
Para Éfeso, Jesus diz que anda no meio da igreja, como um líder que observa atentamente a seu povo (v.1). Éfeso tinha três características destacadas pelo Senhor, dignas de elogios:

– Permaneceu fiel a palavra (v.6), foram intolerantes com a heresia, enfrentando os falsos apóstolos (v. 2); 

– Era ativa na a obra do Senhor, engajados na propagação do evangelho (v. 2); 

– Perseverantes nas tribulações e perseguições (v. 3), os cristãos eram perseguidos por não adorarem a deusa Diana, porém, suportaram e não desanimaram. 
Todavia, havia algo a ser criticado a Igreja em Éfeso:

– O abandono do primeiro amor: “Tenho, porém, contra ti que deixaste o teu primeiro amor” (v. 4).


A igreja era ativa na obra, perseverante e fiel, no entanto, substituíram o amor a Deus pelo apreço a religião. A igreja cultivava a paisagem do lado de fora tornando-a verde e florescente, no entanto, do lado de dentro seu coração estava deserto. Deixaram o zelo pela obra e as lutas contra as heresias tornarem-se prioridades e tomarem o lugar de Deus em suas vidas. Sem comunhão e amor genuíno por Deus todo trabalho é em vão.
Por isso, Cristo chama a atenção de Éfeso, para corrigir seu erro: 

–“Lembra-te, pois, donde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras” (v. 5a).
Arrepender-se não é apenas identificar o erro, mas decidir não mais praticá-lo, implica em mudar de vida. A igreja em Éfeso esqueceu-se do verdadeiro amor, estava apática, precisava romper com esse lapso e retornar a viver o amor por Deus.


Assim, para aqueles que aceitam a correção e retornam há uma promessa de Cristo:

– Acesso a árvore da vida, ou seja, usufruir eternamente do pleno amor de Deus(v. 7)
A você que se distanciou de Jesus, perdeu a vontade de buscá-lo, não tem mais ânimo para orar e ler a palavra. Sente que seu coração está mais gelado e endurecido que um iceberg. É hora de reconhecer e voltar-se para Jesus, retornar ao primeiro amor.




2. Igreja em Esmirna (Apocalipse 2:8-11)


Esmirna (atual Izmir – Turquia) situada na Ásia Menor, ficava a aproximadamente cinquenta quilômetros da cidade de Éfeso, era famosa por sua beleza, considerada a flor da Ásia e devota ao imperador romano, foi a primeira cidade a erguer um templo à deusa Roma. A igreja era pressionada a abandonar sua fé e a adorar ao imperador como se fosse Deus. 



Cristo se apresenta a Esmirna como aquele que venceu a morte (v. 8), pois a Igreja passava por muitos sofrimentos.


Todavia, mesmo em meio as tribulações Esmirna não decepciona, é elogiada: 

– Por perseverar mesmo no sofrimento, Esmirna era uma igreja pobre e caluniada dentro de uma cidade rica (v. 9);

– Resistiram as perseguições e mantiveram-se fiéis a Deus (v. 10). Esmirna era uma cidade fiel a Roma, com uma igreja fiel a Cristo, os cristãos eram atacados e mortos por não dizerem “César é o Senhor” e permanecerem declarando “Cristo é o Senhor”.
Apesar de ser um centro de idolatria, os cristãos em Esmirna não receberam nenhuma crítica. Cristo os encoraja a permanecerem fiéis lhes garantindo uma promessa, o prêmio da vitória:

– A coroa da vida e, os que permanecerem firmes não sofrerão a morte eterna (v. 10b-11).



Jesus espera que sejamos fiéis até o fim, que os princípios e valores sejam preservados. Não se molde aos padrões deste mundo, mas reconheça o Senhor em todos os seus caminhos. Sê fiel a Cristo até o último momento.




3. Igreja em Pérgamo (Apocalipse 2:12-17)

Pérgamo (significa casada) era a antiga capital da Ásia e um importante centro cultural, possuía a segunda maior biblioteca do mundo, com mais de duzentos mil pergaminhos (derivação de Pérgamo). A cidade também possuía diversos templos para diferentes deuses, o mais famoso era o de Esculápio, o deus da cura (símbolo serpente), além da divinização ao imperador, uma vez ao ano todos tinha que ir ao templo declarar que “César é o Senhor”, depois poderia aderir a qualquer religião. O sistema de Pérgamo era o próprio “trono de Satanás “ (v. 13). 



Cristo se apresenta a Pérgamo como aquele que tem a espada de dois gumes (v. 12), ou seja, ele é o justo juiz que irá separar o bem e o mal, a verdade da heresia, pois, Pérgamo estava se misturando com o mundo.



Contudo, Pérgamo tem características dignas de elogios:

–  Foi fiel mesmo diante do martírio. A igreja era capaz de morrer por Cristo. Antipas, pastor da igreja em Pérgamo, resistiu à apostasia até o fim, ele foi assado vivo (v. 13).

Porém, Pérgamo também foi criticada:
– Por tolerar a idolatria, heresias e imoralidade, a igreja foi seduzida pela pecaminosidade, os prazeres do mundo (v. 14-15).

 Alguns cristãos aderiram a doutrina dos nicolaítas (v. 15), eles ensinava que quanto mais pecados alguém tivesse, mais oportunidades teriam de serem perdoados, por isso deveriam entregar-se aos prazeres da carne, já aquele que não aderiram conformaram-se com as práticas mundanas.

Por compactuar com a promiscuidade e idolatria, Cristo chama a Igreja ao arrependimento (v. 16), tanto os que aderiram quanto os que se conformaram. A igreja não pode compactuar com erro mesmo não o praticando. Jesus virá para julgar a todos conforme as suas obras.


Para aqueles que decidirem rejeitar o pecado e viver conforme a palavra, Jesus promete:

–  O maná escondido, a pedrinha branca com um nome novo escrito, ou seja, participarão do banquete do noivo e, para entrar no banquete ganharão o “bilhete de entrada” – a pedrinha branca era usada como passaporte de entrada em festas messiânicas, também utilizada como símbolo de absolvição nos tribunais – o cristão receberá um novo nome e  será declarado justo diante de Deus.



4. Igreja em Tiatira (Apocalipse 2:18-29)

Tiatira era muito conhecida pelo seu comércio, tinha uma localização geográfica privilegiada, e por ela trafegava todo o intercâmbio comercial entre Europa e Ásia. Apesar de ter sido destruída por um terremoto durante o reino de Augusto (27 a.C.-14 d.C.), foi reconstruída com a ajuda romana. 


Possuía várias associações e para o profissional comercializar, era necessário filiar-se. O problema é que essas associações ofereciam festas com banquetes consagrados a ídolos, regidas por orgias. Acontece que optar por não participar era o mesmo que se isolar comercialmente, sem chances de prosperidade. 
A atividade comercial mais importante em Tiatira eram os produtos têxteis, inclusive Lídia, era uma das comerciantes de roupas da cidade.
Cristo se apresenta a igreja em Tiatira como aquele que sonda mente e corações,  pois seus olhos são como chamas de fogo (v. 18).


Cristo ressalta que Tiatira é amorosa, fiel, persistente e paciente (v. 19). No entanto, foram seduzidos por Jezabel – referência a esposa do rei Acabe que propagou a idolatria ao povo de Israel, incentivando-os a apostatar-se do Deus vivo (1Rs 16:31-33) – neste contexto, Jezabel é uma representação simbólica da apostasia e imoralidade sexual, aqueles que abandonam os preceitos do Senhor e se submetem às doutrinas pagãs estavam cometendo adultério espiritual com ela (v. 22).



5. Igreja em Sardes (Apocalipse 3:1-6)

Sardes era a capital da Lídia no século VII a.C., atualmente é a Turquia. A cidade era rica e bela, situada no alto de uma colina, envolta por precipícios, cercada por uma muralha e protegida por soldados, seus habitantes eram altivos, a consideravam impenetrável. Porém, em 529 a.C. o rei Dario conseguiu adentrar na cidade com seu exército, aproveitou-se dá falta de vigilância dos soldados que dormiram e passaram por um buraco no muro. Anos depois, foi novamente dominada por Epifânio. A autoconfiança abrandou a vigilância e o Inimigo atacou como um ladrão: “Se não acordarem, eu os atacarei de surpresa, como um ladrão, e vocês não ficarão sabendo nem mesmo a hora da minha vinda” (v.3).



A cidade de Sardes também era famosa por sua imoralidade, os habitantes tinha um estilo de vida de luxúria e devassidão. Quanto à igreja, essa tinha grande notabilidade era esplendorosa e ágil, mas não tinha vida, externamente gloriosa e internamente morta: “Eu sei o que vocês estão fazendo. Vocês dizem que estão vivos, mas, de fato, estão mortos” (v.1).



A mensagem de Jesus para a igreja de Sardes é uma exortação ao reavivamento, pois o pecado era camuflado por uma falsa integridade. Cristo se apresenta a igreja como aquele que tem “os sete espíritos de Deus e as sete estrelas” (v.1). Sete representa a perfeição divina, a plenitude, a totalidade, portanto nada pode ser ofuscado dele. Só o Espírito de Deus pode dar vida ao que está morto. A ordem para a igreja de Sardes, continua sendo a mesma para a atualidade: acordem, arrependam-se, voltem ao que era antes e vivam em obediência, sejam vigilantes pois Jesus virá de surpresa.



6. Igreja em Filadélfia (Apocalipse 3:7-13)

Filadélfia (atual Alaseir – Turquia) foi fundada pelos colonos de Pérgamo, era chamada de Porta do Oriente, pois ficava situada na rota do Correio imperial de Roma para o Oriente, o objetivo era propagar a cultura grega. Porém, Jesus se apresenta como o Santo e verdadeiro, detentor da chave e a porta que ele abre ninguém fecha, a que ele fecha ninguém abre. A cidade abriu as portas para a divulgação do paganismo, mas Jesus abriu as portas para propagação evangelho: “Eu abri diante de vocês uma porta que ninguém pode fechar” (v.8).



A igreja de Filadélfia era pobre, exatamente o contrário de Sardes, porém fiel, não se moldou aos padrões do mundo, permaneceu em obediência apesar das dificuldades e sofrimento. A essa Igreja Jesus faz apenas um alerta: "Guardem o que vocês têm, para que ninguém roube de vocês o prêmio da vitória (v.11)”, isto é, permaneçam firmes e constantes, não desviem nem para direita nem para esquerda, para no grande dia estarem no reino eterno de Deus.



A mensagem de Jesus é clara: a porta está aberta não apenas para que possamos ultrapassá-la e acessar o reino de Deus, mas também, para que venhamos divulgar o evangelho e alcançar outras vidas. As portas se abrem quando a oportunidade aponta, as portas se fecham quando chega o momento de aquietar e esperar. Jesus é a verdade (v.1) e tudo que ele faz tem um propósito. Portanto, mantenha-se fiel, pois a palavra de Deus é imutável.



7. Igreja em Laodiceia (Apocalipse 3:14-22)

Exuberante e rica, a cidade de Laodiceia estava situada nas montanhas, ficava entre a rotas comerciais, no principal cruzamento dos vales da Ásia Menor, além de bem localizada, era próspera. Depositava sua confiança na riqueza. Deus não fazia parte de suas vidas, pois sentiam-se autossuficientes. A igreja de Laodiceia, não fazia a diferença na cidade, ao invés de conquistar pessoas para Deus, foram conquistados pela exuberância da riqueza. A igreja perdeu o fervor que aviva o espírito e tornou-se espiritualmente apática (v.15). 


Cristo se apresenta como a verdadeira e fiel testemunha de Deus, uma vez que ele está vendo o agir de cada um,  Ele exorta a Igreja à mudar o estilo de vida, quando diz: “ comprem roupas brancas para se vestir e cobrir a sua nudez vergonhosa. Comprem também colírio para os olhos a fim de que possam ver” (v. 18), ou seja, troquem as atitudes vergonhosas por atos de integridade, analisem-se para descobrir o que não é agradável ao Senhor, amplie a visão e transformem-se, sejam compromissadas com a palavra e arrependam se dos seus erros (v. 19).


Ademais, Cristo também alerta a igreja a expulsarem a soberba e a vaidade do coração, para que ele possa entrar e ali fazer morada, pois já está à porta aguardando ser aberta (v.20). Embora ele não tenha a necessidade de bater a porta, pois tem a chave e  autoridade para entrar e fazer a limpeza completa, mas ele pede pra entrar porque quem sai arrombando sem pedir licença é o Diabo. Jesus quer ser um convidado a entrar na vida e ter um relacionamento pessoal. 


Assim, todo aquele que decide convidar Jesus a entrar e permanece fiel a palavra terá reservado um lugar ao seu lado no reino de Deus. Essa é a promessa daquele que é o “amém”, confiável e incontestável (v.21).



O que as cartas têm a ensinar as igrejas da atualidade?

Todas são frágeis e necessitam da força e amparo do Senhor para perseverarem. As mesmas dificuldades, perseguições e pecados enfrentados há séculos, ainda persistem em nossos dias. Cristo chama a Igreja ao arrependimento, pureza espiritual e avivamento. As cartas às sete igrejas do Apocalipse são um alerta para uma mudança de mente e transformação de vida até que Cristo volte. E ele virá sem demora. “Ouça o que o Espírito diz às igrejas”.


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